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29 de julho de 2022
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O Blog da Brasil Benefícios
O Rio de Janeiro é prova de que mesmo as dádivas naturais mais
generosas não garantem o sucesso. O Rio perdeu sua posição como capital política do Brasil para Brasília em 1960 e o seu status como capital de negócios para São Paulo nas décadas seguintes. Violência urbana e infraestrutura inadequada prejudicaram sua indústria de turismo. Os jogos olímpicos de 2016 representam sua melhor chance da cidade de reverter décadas de declínio. Mas o Rio será capaz de aproveitar essa oportunidade? Esta questão paira sobre o Rio como um equivalente retórico da estátua do Cristo Redentor.
Quem fará mais que qualquer outra pessoa para responder essa questão é a presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Sílvia Bastos Marques. Ela tem a experiência ideal para liderar uma organização que se estende entre os setores público e privado: ela foi presidente de uma siderúrgica e diretora de duas das maiores empresas do Brasil, Petrobras e Vale, e também ocupou diversas posições no governo local e foi a primeira diretora no conselho do BNDES, o vultoso banco de desenvolvimento do Brasil. E ela tem uma resposta pronta para qualquer pergunta.
Por exemplo: logística. Ela aponta um mapa que mostra as linhas de ônibus dedicadas e as linhas de metrô que trarão a dispersa população para os jogos. E o complicado governo do Rio (o poder é dividido entre as esferas de governo federal, estadual e municipal, e as forças armadas possuem grandes pedaços de terra na cidade)? Ela demonstra conhecer todos que ela precisa. E o crime? Ela nota que essa não é uma de suas responsabilidades, mas menciona números que mostram que a nova polícia pacificadora está dando bons resultados. Ela diz que quer que os jogos transformem sua cidade natal, acelerando projetos que estavam engavetados por anos—tal como um projeto de 30 anos para melhorar a área portuária—deixando as fundações para o crescimento de longo prazo.
O fato da Sra. Maria Sílvia ter recebido esse trabalho tão desafiador é outro exemplo da ascensão das mulheres no país mais populoso da América Latina. O Brasil tem uma presidente mulher, Dilma Rousseff, e as mulheres compõem 26% de seu ministério. A presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, é a única mulher que lidera uma grande companhia petrolífera em todo o mundo. Grant Thornton, uma consultoria, relata que as mulheres são 27% dos gerentes sêniores nas principais empresas do Brasil, comparado com uma média global de 21% (a Suécia tem 23%, o Reino Unido 20% e os Estados Unidos 17%). Forbes, uma revista de negócios, calcula que 20% dos bilionários do país são mulheres, comparado a uma média global de 10%. O Brasil também tem uma proporção maior de mulheres na força de trabalho (59%) que países desenvolvidos como a França (52%) ou o Reino Unido (57%). Mas uma razão pela qual profissionais do sexo feminino puderam prosperar é que é fácil contratar mulheres trabalhadoras para cuidar de seus filhos e limpar a casa: o Brasil tem cerca de 7 milhões de empregados domésticos, quase todos mulheres.
Nem todas as cifras são tão favoráveis. McKinsey, outra consultoria, avalia que as mulheres constituem apenas 7% dos membros dos conselhos das empresas. Menos de 9% dos postos na câmara dos deputados são ocupados por mulheres. Mas a mudança tem sido dramática. O Brasil era um lugar machista, patriarcal: em 1960 as mulheres tinham em média seis filhos, e apenas 17% trabalhavam fora de casa. Desde então, as mulheres entraram em peso na força de trabalho, especialmente nas cidades maiores. Sylvia Ann Hewlett, presidente do Center for Talent Innovation (Centro para Inovação em Talentos), um centro de estudos nos Estados Unidos, diz que 80% das mulheres com grau universitário têm intenção de chegar ao cargo mais alto em suas empresas, comparado com 52% de suas irmãs Americanas.
O que explica uma transformação tão notável? Há um bom tempo, o Brasil já tem, em teoria, competição aberta por vagas nas universidades de elite e nos cargos públicos. Mas apenas recentemente as mulheres puderam aproveitar essa igualdade, graças ao melhor acesso das mulheres ao ensino básico e, especialmente, à queda na taxa de fertilidade para os atuais 1,8 filhos por mulher. Meninas hoje apresentam desempenho superior aos meninos na escola e são 60% dos formados no ensino superior. Algumas mulheres líderes da geração atual conseguiram sucesso apesar de dificuldades extraordinárias: Graça Foster nasceu numa favela e começou a trabalhar como catadora de sucata aos oito anos de idade, mas lutou para se formar engenheira e obter um mestrado em administração (MBA). Agora as chances estão melhorando, e o número de mulheres em cargos de liderança deve aumentar dramaticamente.
Uma segunda resposta são as políticas sociais progressistas. O Brasil tem um movimento feminista ativo há décadas, e um ministério das mulheres desde 2003. Dilma Rousseff lutou muito para promover mulheres em seu governo. E algumas companhias globais lideraram a tendência de tornar seus locais de trabalho mais amigáveis às mulheres: a operação local do Walmart, em que as mulheres preenchem 35% das posições de gerência, tem um conselho de trabalhadoras, por exemplo.
Há outros fatores por trás da “feminização” do Brasil, no entanto. Políticos poderosos usam tradicionais práticas de favorecimento para promover poucas mulheres de sorte. Dilma Rousseff foi chefe de Graça Foster, e a promoveu quando era ministra das minas e energia em 2003/2005 e depois, como presidente, a colocou à frente da Petrobras. Dilma Rousseff foi, por sua vez, protegida de seu predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Oito das nove bilionárias brasileiras herdaram suas fortunas de seus pais ou maridos: duas das nove são filhas do maior magnata de concessões rodoviárias.
Mesmo assim, seria ingenuidade esperar que qualquer país marche em linha reta em direção à modernidade, ainda mais se tratando do Brasil. Tom Jobim, o músico que (com Vinícius de Moraes) deu ao mundo a “Garota de Ipanema”, uma vez disse que “Nova Iorque é ótimo, mas é uma bagunça; o Rio é uma bagunça, mas é ótimo”. Que o Brasil esteja produzindo mulheres como Maria Sílvia Bastos Marques—ou como Dilma Rousseff e Graça Foster—demonstra que um país que, há menos de 30 anos ainda era liderado por generais, está progredindo dramaticamente. Também traz esperança que a bagunça do Rio de Janeiro possa dar lugar a uma olimpíada de sucesso.
(The Economist, 15/junho/2013, coluna Schumpeter: Redeemers of a macho society)
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